Bahrein, Chipre, Egito, Iran, Israel, Jordânia, Paquistão, Turquia
e Autoridade Palestina (ANP). Começando assim, parece que estamos diante de
mais um texto sobre desentendimento, intolerância e guerras. Mas não, esse texto não é sobre guerras.
Não me lembro mais como tomei conhecimento da existência do SESAME,
nem que motivações e conexões mentais me fizeram seguir dezenas de hyperlinks na Internet para
descobrir essa história incrível que compartilho aqui com vocês.
SESAME é um
acrônimo para Synchrotron-light for
Experimental Science and Applications in the Middle East. Não se
assuste... não pare de ler ainda porque SESAME também é a palavra mágica que
abre a caverna onde está escondido um inestimável tesouro! Um sincrotron é uma
espécie acelerador de partículas, semelhante ao Grande Colisor de Hádrons do
CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear). No CERN os cientistas
fazem colidir partículas para estudar a origem das suas massas. Um sincrotron, simplesmente faz as
partículas ‘dançarem’ para produzir uma luz de grande intensidade e alto brilho:
a ‘luz sincrotron’. Essa luz é perfeita para a observação de objetos
nanométricos, aqueles que possuem dimensões na escala atômica ou molecular, que
não podem ser vistos nem mesmo com um microscópio (proteínas e vírus, por
exemplo). Deve ser uma coisa incrível, né? Digo ‘deve ser’ porque, como muitos
dos que estão lendo isso, meu arcabouço de conhecimento não é suficiente para apreender
a importância do SESAME para a física quântica. Mas isso não tem a menor
importância porque esse texto também não
é sobre o avanço da ciência e esse não é o maior tesouro que o SESAME nos
oferece.
O SESAME nasceu de uma ideia muito louca. A ideia era promover a cooperação entre
árabes e israelenses para a ciência. Os loucos eram o israelense Eliezer
Rabinovici e o italiano Sergio Fubini, ambos cientistas do CERN. Rabinovici,
sabia da importância da cooperação para a ciência e se inquietava em ver que a
falta de diálogo dos países do Oriente Médio (provocado por divergências
religiosas, econômicas e políticas), reduzia a quase zero a sinergia potencial
entre os cientistas da região. Fubini coordenava um grupo de cooperação
científica para países do Oriente Médio. Em 1994 eles decidiram que estava na
hora de tirar do papel o que eles chamavam de ‘universo paralelo da paz’: colocar
inimigos históricos num mesmo laboratório, pesquisando e produzindo ciência.
Os dois se auto empossaram membros de um comitê científico
que teve como primeira ação organizar um encontro de cientistas em Dahab,
Egito, próximo ao Deserto do Sinai. O encontro discutiu missão e
possibilidades, mas o plano de ação que faltava só surgiu em 1997, quando um
grupo de cientistas alemães resolveu doar para o SESAME um acelerador antigo,
oriundo da recém extinta Alemanha Oriental, que estava prestes a ser
substituído por um mais moderno. Alguns membros do SESAME relutaram em aceitar
alegando que um equipamento tão antigo não atrairia cientistas. Rabinovici foi
decisivo mais uma vez, dizendo coisas mais ou menos assim: 'Claro que temos que
aceitar! Precisamos rápido de algo concreto porque não vamos querer construir uma coalizão de Árabes e Israelenses em
torno do ar!' Em 1999 o empreendimento recebeu o nome de SESAME, sugestão de
um membro da Autoridade Palestina. Em 2000 o grupo decidiu instalar o
equipamento na Jordânia: “Tinha que ser na Jordânia. Era o único lugar onde todos poderiam ir”, disse Rabinovici
referindo-se ao fato de que era o único país com relações diplomáticas com
todos os outros.
O SESAME ainda precisaria da autorização da UNESCO para
construir um laboratório para aceleração de partículas, dados os riscos que
experimentos dessa natureza oferecem. Imagine
convencer a UNESCO de que cientistas do Bahrein, Chipre, Egito, Iran, Israel,
Jordânia, Paquistão, Turquia e Autoridade Palestina (ANP) acelerariam partículas
em paz... A aprovação da UNESCO veio em 2002. Seguiu-se a construção da
planta, a montagem do equipamento e o primeiro teste veio em 2009.
Toda a história do SESAME (que inclui até sobreviver ao
terremoto de 6.9 graus de magnitude que
ocorreu no Egito no dia do encontro em Dahab) vale a pena ser lida, mas eu ficarei por aqui. Dou agora um grande salto para o dia 16 de maio de 2017,
quando o laboratório foi totalmente concluído e aberto para os cientistas
dos países membros. Infelizmente, uma notícia muito pouco divulgada. Mais
triste ainda é que a pouca divulgação que recebeu fique ofuscada por tanta
notícia da chamada agenda negativa, seja no mundo como um todo, seja no local
onde vivemos e atuamos.
Esse não é um texto sobre guerras nem sobre avanço da
ciência, é sobre a resiliência humana diante do negativo e da destruição. O ser
humano está conectado pela necessidade e paixão de produzir conhecimento. O SESAME levou 20 anos para acontecer, mas aconteceu porque a rede do conhecimento desconhece os obstáculos impostos por outras redes. As
religiões pregam dogmas incompatíveis que geram intolerância e a rede de
conhecimento os ignora. As nações riscam no chão as fronteiras que dizem “daqui
não passarás”, mas a rede de conhecimento as ignora. O mercado produtivo coloca
as informações em cofres gerando alto custo de transação, mas a rede de
conhecimento os ignora. As instituições de ensino pregam o erro como algo a ser
evitado, colocando os humanos em desconfortáveis zonas de conforto, mas isso a
rede de conhecimento também ignora.
O mundo hoje é muito melhor do já foi em qualquer tempo e
até muito melhor do que imaginamos que seja. Isso se deve apenas à resiliência da
rede de conhecimento que constrói e direciona valor para onde é necessário.
Vida longa ao SESAME que nesse texto foi apenas o pretexto
para falar do conhecimento como o 'universo paralelo da paz'.
Eliezer Rabinovici e Sergio Fubini, larguem as partículas
subatômicas dançando por aí e saiam pelo mundo contando essa história.
Resenha oportuna, com abordagem de estilo original e excelente tempero político, cultural e científico. Induz o desejo de acompanhar a vida do SESAME, mesmo sem qualquer interesse em Física Nuclear!
ResponderExcluirTudo o que gira em torno do universo é feito de energia, inclusive os nossos pensamentos, palavras e ações influenciam, "transpiram" e conduzem energias positivas ou negativas, em nossas consciências, espaço físico, em nossas vidas... Que a humanidade consiga alcançar essa percepção, em busca de um mundo melhor!!!! Vida longa ao SESAME!!!
ResponderExcluirMagnífico! Caminhando para a Consciência Não Local!
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