Poderia dizer só isso e deixar vocês duvidarem e descobrirem sozinhos essa história, mas vou avançar um pouquinho...
Foi o primeiro país a declarar
o acesso à Internet como um direito humano (2000) e também o primeiro permitir
a votação on-line nas eleições gerais (2007). Tem um serviço de banda larga dos
mais velozes do mundo e é recordista no número de startups por habitante. Tem
armazenado em nuvem todos os registros médicos de seus cidadãos e todas as
escolas estão conectadas desde 1998. Sua rede digital extrapola suas
fronteiras geográficas: qualquer pessoa do mundo pode se habilitar para ter a
cidadania digital e com isso abrir uma empresa no país (em alguns minutos...) e usar o seu sistema financeiro . Isso
não é tudo (para saber mais acesse os links no final nesse texto), mas já deixaria qualquer outro país desenvolvido comendo poeira na estrada da digitalização, não é?
Essa
história tem um detalhe que não pode deixar de ser dito: tudo isso aconteceu depois de 1991, após o colapso da União Soviética, bloco comunista do qual a Estônia fazia parte. Não é preciso muito esforço para imaginar como o país deveria estar defasado e carente no momento em que se viu livre das amarras impostas pela URSS. Tudo é história e está devidamente registrado. Então, como eles conseguiram
essa virada em pouco mais de duas décadas?
Claro que a
organização da economia foi fundamental para permitir um planejamento de crescimento
e atrair investimentos e isso começou imediatamente (1992). Não é objeto de análise desse texto, mas faço questão de dizer
que a Estônia é um dos países mais liberais do mundo!
A revolução digital
começou em 1997, quando o país decidiu buscar soluções para a ampliação e uso
de documentos digitais, mas sóe podemos hoje falar que a Estônia é uma
plataforma digital completa, isso se deve a Taavi Kotka, CIO (Chief Information
Officer) do país desde 2013 (foto).
Taavi Kotka, CIO da Estônia desde 2013 |
Conhecido como um ‘homem
com uma visão de futuro’, Kotka vislumbrou a necessidade e a oportunidade de
transformar a Estônia numa sociedade digital. Para enfrentar o desafio concebeu
e implantou a política do ‘apenas uma vez’ (once
only policy), que preconiza que nenhuma informação deverá ser registrada
mais de uma vez (‘no single piece of information
should be entered twice’).
A política é
extremamente elegante porque em apenas uma frase feita de palavras simples,
alcança tudo o que se espera de uma política de inovação para o século XXI, que
deve ter a digitalização como alicerce principal. Vejamos por exemplo:
Sobre o custo da coleta dos dados: uma vez coletados, dados digitais podem participar de infinitos
processos produtivos de conhecimento. É um recurso que não se desgasta com o
uso. Porque não reduzir o esforço da coleta? Se uma informação já foi coletada,
basta.
Open data: se apenas um
coleta e todos devem usar, então... os dados devem ser compartilhados! Simples
assim.
Governança dos dados: se
todos vão usar os mesmos dados, eles precisam ter boa estrutura, integridade,
disponibilidade, acessibilidade e um fácil gerenciamento. A identidade única e digital do cidadão da Estônia é a chave de busca para diversos dados de interesse da sociedade como dados de saúde, de educação, propriedade etc.
Política de uso de dados: esse recurso pertence a todos e para isso o país adotou uma política rigorosa
de responsabilidade e exige de todos o seu reconhecimento e cumprimento.
Outras implicações e consequências
benéficas devem estar associadas à only
once policy. O que foi citado são apenas alguns exemplos.
Podemos dizer que Kotka colocou a Estônia nas nuvens!
Até pouco tempo,
sempre que me perguntavam que política pública seria fundamental na área de...
(pode completar com o que você quiser), eu respondia sem pensar: uma política
que incentive o livre compartilhamento de dados, ou simplesmente a cultura open
data. Isso foi até o final
do ano passado (2017). Hoje
eu quero a política ‘no single piece of
information should be entered twice’.
Para ler mais sobre a
Estônia:
Estônia, uma democracia
digital (em português) https://medium.com/app-civico/est%C3%B4nia-uma-democracia-digital-9e4ccc5279f6,
How did Estonia become a leader in technology? (inglês) https://www.economist.com/blogs/economist-explains/2013/07/economist-explains-21?fsrc=scn/fb/te/bl/ed/howdidestoniabecomealeaderintechnology
Estonia, the Digital Republic (inglês) https://www.newyorker.com/magazine/2017/12/18/estonia-the-digital-republic?mbid=social_facebook
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