A frase acima foi retirada de um texto da Delloite (gigante
do ramo de consultoria, auditoria e assessoria para empresas), mas podemos
dizer que ela é comum no pensamento de todos (ou quase todos) os players
envolvidos nesse ecossistema de objetos conectados.
Penso que essa é uma ideia equivocada. Não é que
não seja importante ter um protocolo de segurança que minimize o risco do mau
uso dos dados. Claro que isso é importante. Todo o restante do texto tem
informações relevantes, considerações importantes e sugestões que devem ser
consideradas. Mas isso não quer dizer que a IoT só vai decolar quando os
consumidores confiarem que tudo isso já está implantado e funcionando
direitinho.
Por três motivos:
1. IoT não está restrita a dados sobre pessoas. Muitos sensores conectam e coletam dados de plantações, criações de animais, equipamentos de logistica e de produção de produtos, condições climáticas etc. Coisas que não envolvem dados pessoais e estão alavancando a IoT. Os impactos do uso desses dados sim, serão para as pessoas, e geralmente são benefícios, o que colocará as pessoas a favor disso e não resistentes.
2. A regulamentação sempre vem depois do fato
consumado. Não tem como ser diferente, por definição. É impossível criar regras
e protocolos para algo que não existe. A sociedade muda primeiro. As leis
correm atrás.
3. Mesmo falando exclusivamente sobre dados pessoais, quando adotamos uma inovação, estamos buscando
soluções que reduzam nossa "taxa de sofrimento" em algum aspecto de
nossas vidas. Se o produto ou serviço de fato desempenha esse papel, aceitamos
em troca abrir mão de alguma coisa. Isso costuma ser um ato consciente quando
se trata de troca material: pagar por um produto ou serviço, por exemplo (eu
disse consciente, não racional!). Mas quando não há "desembolso"
material na troca, o grau de inconsciência é muito maior. Usamos o celular
porque facilita nossa comunicação, o GPS, porque facilita nossa localização, o e-commerce e o
Google, porque são extremamente convenientes. Ninguém pensa que está cedendo
dados, e quando pensa, o que vem de mais racional à cabeça é a confiança nas instituições (o que, vamos combinar, é mais instinto do que racionalidade). Fomos treinados para isso. Se não confiamos nas
instituições o medo nos paralisa. Todos nós conhecemos casos patológicos dessa
natureza.
Olhando agora para os fatos e os números, podemos
confirmar a teoria: Não conhecemos muitas pessoas que recuaram do uso de um
produto/serviço útil, pelo fato de estarem cedendo dados. Ao contrário, uma
proporção cada vez maior da população está usando uma quantidade cada vez maior
e diversificada de "coletores de dados". Também o número de objetos
conectados cresce exponencialmente, ou seja, as empresas não estão esperando as
regras e os protocolos... (embora certamente estejam preocupadas e trabalhando nisso).
Para polemizar um pouco mais essa questão, pensemos
no seguinte: Já existem dados suficientes para provocar uma avalanche de
soluções inovadoras em todos os setores produtivos, mas vamos especular em um
onde o ser humano tem mais expectativas na redução das taxas de sofrimento: a
saúde. Por coincidência ou não, esse é um setor onde é bastante fácil implantar
sensores para IoT. Sabemos, por exemplo, que algumas pessoas já usam diariamente monitores no
braço (fit bands) por modismo, curiosidade, necessidade de ser moderno e até porque
enxergam mesmo algum valor neles. Os dados são coletados e os controladores
desses dados estão colocando esforços para gerar mais valor com eles (disso não tenha
nenhuma dúvida). Imagine se hoje sai a seguinte notícia no jornal: Cientistas
descobrem a cura do câncer através de tratamento personalizado a partir do padrão do batimento cardíaco. Para
isso são necessários dados diários dos últimos 10 anos do paciente. Não se apegue na plausibilidade do exemplo, concentre-se na essência do argumento. O que você
acha que vai acontecer imediatamente depois? Pessoas vão esperar as leis que
garantam a privacidade no uso desses dados para depois comprarem suas fit
bands? Empresas consultarão seus departamentos jurídicos e farão lobby com os
legisladores para aprovar logo as regras para uso dos dados? Ou haverá uma corrida
dos consumidores ao mercado em busca desses sensores, e das empresas visando
oferecer o melhor produto para essas pessoas?
A Iot, vai se consolidar antes que o cidadão/consumidor
possa confiar inteiramente nela.
Qual a implicação prática disso? Para os
pioneiros, pouca diferença. O problema são os seguidores e retardatários, a
grande maioria dos players, que podem ver nisso uma justificativa para adiar
confortavelmente um planejamento estratégico que os coloque no paradigma
digital.
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