quinta-feira, 23 de março de 2017

A Internet das Coisas não está esperando por nada: não pisque o olho ou vai perder

"A Internet das Coisas só vai decolar se os consumidores puderem confiar nela."

A frase acima foi retirada de um texto da Delloite (gigante do ramo de consultoria, auditoria e assessoria para empresas), mas podemos dizer que ela é comum no pensamento de todos (ou quase todos) os players envolvidos nesse ecossistema de objetos conectados. 

Penso que essa é uma ideia equivocada. Não é que não seja importante ter um protocolo de segurança que minimize o risco do mau uso dos dados. Claro que isso é importante. Todo o restante do texto tem informações relevantes, considerações importantes e sugestões que devem ser consideradas. Mas isso não quer dizer que a IoT só vai decolar quando os consumidores confiarem que tudo isso já está implantado e funcionando direitinho.

Por três motivos:

1. IoT não está restrita a dados sobre pessoas. Muitos sensores conectam e coletam dados de plantações, criações de animais, equipamentos de logistica e de produção de produtos, condições climáticas etc. Coisas que não envolvem dados pessoais e estão alavancando a IoT. Os impactos do uso desses dados sim, serão para as pessoas, e geralmente são benefícios, o que colocará as pessoas a favor disso e não resistentes.  

2. A regulamentação sempre vem depois do fato consumado. Não tem como ser diferente, por definição. É impossível criar regras e protocolos para algo que não existe. A sociedade muda primeiro. As leis correm atrás.

3. Mesmo falando exclusivamente sobre dados pessoais, quando adotamos uma inovação, estamos buscando soluções que reduzam nossa "taxa de sofrimento" em algum aspecto de nossas vidas. Se o produto ou serviço de fato desempenha esse papel, aceitamos em troca abrir mão de alguma coisa. Isso costuma ser um ato consciente quando se trata de troca material: pagar por um produto ou serviço, por exemplo (eu disse consciente, não racional!). Mas quando não há "desembolso" material na troca, o grau de inconsciência é muito maior. Usamos o celular porque facilita nossa comunicação, o GPS, porque facilita nossa localização, o e-commerce e o Google, porque são extremamente convenientes. Ninguém pensa que está cedendo dados, e quando pensa, o que vem de mais racional à cabeça é a confiança nas instituições (o que, vamos combinar, é mais instinto do que racionalidade). Fomos treinados para isso. Se não confiamos nas instituições o medo nos paralisa. Todos nós conhecemos casos patológicos dessa natureza. 

Olhando agora para os fatos e os números, podemos confirmar a teoria: Não conhecemos muitas pessoas que recuaram do uso de um produto/serviço útil, pelo fato de estarem cedendo dados. Ao contrário, uma proporção cada vez maior da população está usando uma quantidade cada vez maior e diversificada de "coletores de dados". Também o número de objetos conectados cresce exponencialmente, ou seja, as empresas não estão esperando as regras e os protocolos... (embora certamente estejam preocupadas e trabalhando nisso).



Para polemizar um pouco mais essa questão, pensemos no seguinte: Já existem dados suficientes para provocar uma avalanche de soluções inovadoras em todos os setores produtivos, mas vamos especular em um onde o ser humano tem mais expectativas na redução das taxas de sofrimento: a saúde. Por coincidência ou não, esse é um setor onde é bastante fácil implantar sensores para IoT. Sabemos, por exemplo, que algumas pessoas já usam diariamente monitores no braço (fit bands) por modismo, curiosidade, necessidade de ser moderno e até porque enxergam mesmo algum valor neles. Os dados são coletados e os controladores desses dados estão colocando esforços para gerar mais valor com eles (disso não tenha nenhuma dúvida). Imagine se hoje sai a seguinte notícia no jornal: Cientistas descobrem a cura do câncer através de tratamento personalizado a partir do padrão do batimento cardíaco. Para isso são necessários dados diários dos últimos 10 anos do paciente Não se apegue na plausibilidade do exemplo, concentre-se na essência do argumento. O que você acha que vai acontecer imediatamente depois? Pessoas vão esperar as leis que garantam a privacidade no uso desses dados para depois comprarem suas fit bands? Empresas consultarão seus departamentos jurídicos e farão lobby com os legisladores para aprovar logo as regras para uso dos dados? Ou haverá uma corrida dos consumidores ao mercado em busca desses sensores, e das empresas visando oferecer o melhor produto para essas pessoas?

A Iot, vai se consolidar antes que o cidadão/consumidor possa confiar inteiramente nela.

Qual a implicação prática disso? Para os pioneiros, pouca diferença. O problema são os seguidores e retardatários, a grande maioria dos players, que podem ver nisso uma justificativa para adiar confortavelmente um planejamento estratégico que os coloque no paradigma digital. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário