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terça-feira, 17 de novembro de 2015

“Mostre-me um muro com 15 metros e eu lhe mostro uma escada com 16..."

“Mostre-me um muro com 15 metros 

e eu lhe mostro uma escada com 16..."



Tudo ainda não passa de especulações, mas é possível que os terroristas dos ataques a Paris (13/11/15) tenham se comunicado via PlayStation 4. A suspeita do uso do PS4 veio das evidências encontradas nas casas dos suspeitos e de outras pessoas que se relacionavam com eles, do fato de poder haver comunicação entre os usuários dos jogos, da existência de um bom sistema de criptografia nessas plataformas e do fato das agências de inteligência não terem rastreado nenhuma comunicação suspeita nos meios tradicionais de comunicação.

Independente de ficar comprovada ou não essa hipótese, o fato é que os terroristas não deixaram rastros para serem seguidos, ou... pelo menos não aqueles pelos quais estávamos procurando...

Os terroristas modificam seu comportamento para garantir o sucesso da sua empreitada. Isso é típico de sistemas complexos: eles mudam para perpetuar. Toda luta por sobrevivência apresenta forças motoras de grande poder. Ações pontuais são apenas pequenos obstáculos que se colocam no caminho dos sistemas complexos obrigando-os a contorná-los. 

Em 2005 a governadora do Arizona nos Estados, Janet Napolitano, imortalizou uma frase para explicar porque um muro não conseguiria conter a imigração ilegal dos vizinhos mexicanos para seu estado: “Show me a 50-foot wall and I’ll show you a 51-foot ladder.” (o título dessa postagem é uma tradução livre dessa frase).

Ela está certa. Rastreamos aqui eles correm para lá. Erguemos um muro alto e eles arranjam uma escada mais alta...

Vejam que para um sistema complexo não importa se a sua perpetuação é algo desejado ou não pela humanidade. Não importa se o sistema em questão seja formado por pessoas famintas buscando comida, por vírus tentando dizimar uma população, anticorpos combatendo uma doença ou um grupo terrorista querendo se autoafirmar, a propriedade de adaptação é a mesma. A ciência das redes chama esses sistemas de CAS, complex adaptative systems, e afirma que eles se comportam de modo bem parecido. Isso nos dá uma dica de como abordar esses problemas: o ideal é estudar a topologia das redes que os sustentam e buscar gerenciá-las de modo a gerar um resultado diferente do que ela está apresentando. Sim, é muito mais demorado, mas é isso ou se enganar, achando qu agir na causa aparente significa resolver o problema.


O estudo da complexidade usa redes como ferramenta para elaborar modelos que possam nos ajudar a prever o comportamento dos sistemas complexos. Se essa rede atua em ambiente digital, a modelagem fica mais fácil ainda. mesmo com a comunicação criptografada, Criptografia não apaga metadados. O conteúdo da informação pode estar inacessível, mas saber de onde ela veio e para onde ela foi, pode ser suficiente para modelar, descrever, prever e controlar essas redes terroristas.

Rede é uma ferramenta de alto poder descritivo e preditivo e será usada cada vez mais em todos os domínios do conhecimento. Hoje já nos acostumamos a ver redes nos estudos de mobilidade, de influência social e de transmissão de doenças. Mas isso é só o começo.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Big Data e a Ciência das Redes

Big Data e a Ciência das Redes


Não tem como definir. O potencial revolucionário do Big Data é a sua própria definição.

A incrível quantidade de dados digitais que a internet produz está prestes a causar uma revolução em todas as áreas do conhecimento humano.

A última vez que uma tecnologia causou tamanho impacto foi no século XV com a invenção da prensa tipográfica por Gutenberg.

Por que um banco de dados teria esse poder? Porque dados são a matéria prima do conhecimento que, por sua vez, é a única forma de garantir a sobrevivência. Você pode ter se esquecido disso, mas aprendemos para sobreviver às ameaças do ambiente.

Imagine a quantidade de dados que você utiliza para decidir se pode atravessar uma rua com segurança: dados já armazenados de experiências anteriores e dados que você recolhe naquele momento como a velocidade do carro, a distância que ele está de você e a distância para o outro lado da rua.

Todas as espécies fazem isso, mas a humana é a única que além de se adaptar, faz previsões e tenta controlar seu ambiente.

Captamos dados do mundo através dos nossos sensores chamados de sentidos, acumulamos, relacionamos com outros dados, formulamos hipóteses, testamos a sua eficácia no controle de certos eventos e começamos tudo de novo em novas bases. Quanto maior a quantidade e variedade dos dados que analisamos e quanto maior a sua confiabilidade, maiores as nossas chances de sucesso.

Agora voltemos à internet. A grande quantidade de dados certamente é uma condição necessária para a revolução Big Data, mas não é suficiente. É preciso que eles sejam diversificados e confiáveis.

No que diz respeito à variedade, não há o que discutir. Hoje é difícil imaginar uma atividade que não seja feita através, ou com o auxílio, da internet. Isso gera uma diversidade sem precedentes em um único banco de dados digital.

A pressuposição da veracidade tem fundamentos sólidos. Mais da metade dos dados digitais tem origem em rastros de navegação (pegadas que deixamos cada vez que acionamos o mouse) e sensores de todo tipo (como o GPS). Ou seja, a maior parte dos dados digitais é fornecida de modo involuntário, portanto livre de erros de registro e interpretação e de ruídos na comunicação, tão comuns em dados captados de outro modo. Outra grande parte é fornecida de modo voluntário em transações comerciais e financeiras, consulta em sites de busca e troca de mensagens, gerando dados igualmente autênticos.

Volume, variedade e veracidade são três dos quatro “V”s que indicam o potencial revolucionário do Big Data. Mas o melhor está por vir: a internet é a única rede artificial que se comporta como uma rede natural (ecossistema, código genético ou a sociedade, por exemplo) e por isso possui propriedades de um sistema vivo.

Os teóricos do assunto escolheram a palavra “velocidade” para denominar essa dimensão, talvez porque comece com “V” e combine com as demais já citadas, mas a escolha é inadequada. Velocidade está mais associada à rapidez e não é disso que estamos falando. A palavra técnica adequada é “stream”, que significa fluxo. Eu prefiro a palavra “dinâmica”, a terminologia das Ciências das Redes.

A novíssima Ciência das Redes, que surgiu há pouco mais de 10 anos para estudar redes complexas, afirma que a dinâmica dos dados da internet (Big Data) permite a compreensão do funcionamento das redes naturais.

Agora você pode estar se perguntando: E por que usar os dados da internet e não os dados dos próprios sistemas a serem compreendidos? Porque por ser digital, diferente dos sistemas naturais, o Big Data pode ser analisado precisamente nas relações que suas partes (dados) estabelecem entre si (links e logs). Ou seja, o Big Data pode ser analisado de modo sistêmico e dinâmico.

Conhecer as partes de um sistema é competência específica das ciências do século XX. Tem o seu valor e sua importância, mas se mostra ineficaz para resolver aqueles problemas que não se apresentam nas partes de um sistema, e sim em suas relações.

O melhor exemplo disso é o Projeto Genoma que reduziu o DNA humano às suas partes sem causar o impacto que se imaginava em novos tratamentos para doenças. Mas em ciência até resultados decepcionantes a impulsionam. Se identificar o gene que carrega um fator indesejado nem sempre traz a solução para o problema, os cientistas já buscam novos caminhos. Será preciso colocar as partes do sistema juntas de novo e observá-las em funcionamento com as outras partes e com outros sistemas.

Steve Jobs
Steve Jobs, lendário criador da Apple, teve todo o seu código genético mapeado para ser submetido a um tratamento personalizado contra um câncer de pâncreas. Em sua lucidez, reconhecendo o momento de revolução em que nos encontramos, afirmou: “Eu serei um dos primeiros a conseguir sobreviver a um câncer desse tipo, ou um dos últimos a morrer disso”. Como se sabe, conhecer cada gene de Jobs não levou os médicos à sua cura. As causas da doença não estavam em nenhuma parte conhecida. Estavam nas relações que elas estabeleciam com as outras partes e isso ainda é uma coisa desconhecida da medicina.

A Ciência das Redes afirma que a dimensão dinâmica da internet, aliada às características de volume, variedade e veracidade dos dados, permitirá a criação de modelos prescritivos para a solução desse e de outros problemas complexos cujos impactos conhecemos tão bem, como aquecimento global, epidemias, ataques terroristas, crises financeiras globais, desastres naturais etc.

Nesse caso, Steve Jobs estará mais uma vez certo: foi um dos últimos a morrer de câncer de pâncreas.

Agora precisamos saber se a ciência tem acesso aos dados que precisa. Falaremos sobre isso em outra publicação.