terça-feira, 9 de julho de 2013

O nome do jogo é Open Data

O nome do jogo é Open Data

Recentemente a mídia comum, ou a mídia de massa, tem abordado bastante o tema Big Data.

O que acontece quando um tema, que até bem pouco tempo circulava apenas nos ambientes científicos (Sim, big data é ciência! Leia aqui), passa a circular livremente pelo cidadão que não domina profundamente o assunto?

Acontecem coisas maravilhosas!

O mais importante é que tudo o que foi estudado, teorizado, metodologizado e ferramentado é colocado sob consulta para os comentários da peça mais importante do sistema de geração do conhecimento: o cidadão que usará os produtos e serviços gerados, pagará por eles (diretamente ou através de impostos) e receberá os impactos  das mudanças (os bons e os ruins).

Ou seja, Big Data agora é tema de conversas pessoais e profissionais, gerando uma quantidade grande de informações, que devem retroalimentar o ecossistema. Como a discussão está acessível a todos, as contribuições vêm das mais diferentes origens filosóficas, comportamentais, geográficas e de expertise. Essa diversidade enriquece muito o debate do novo assunto.

Podem ter certeza de que os sensores da ciência, organizações e governos estão atentos a todas as manifestações sejam as que rejeitam, as que são indiferentes ou as mais entusiasmadas.

Vou chamar todo esse processo de meta big data. Vamos usar todos os dados disponíveis para fazer analítica descritiva, diagnóstica, preditiva e prescritiva do próprio big data.

Se você já está familiarizado com o conceito, sabe que quanto maior o volume de dados e quanto mais diversificado eles forem, melhor o modelo preditivo e consequentemente as ações desencadeadas.

Pois bem, onde quero chegar? Todo meta big data aponta para uma tendência muito clara de aceitação cada vez maior do conceito open data, a ideia de que todos os dados devem estar livremente disponíveis para a utilização de todos.

Não usei nenhum algoritmo especial para ver open data como uma tendência. Usei meu personal predictive analytics toolkit (nosso cérebro faz isso muito bem!). Por isso, se alguém quiser fazer a analítica por algoritmos e encontrar outra tendência, será de grande utilidade para essa discussão. 

Eu já havia comentado aqui sobre essa tendência de aceitação do open data, e usei como argumentos a inovação (leia aqui) e a economia (leia aqui).

Desde que o assunto big data chegou ao público comum, a esmagadora maioria dos comentários tem sido em relação à invasão de privacidade. Todos se preocupam com o que o Facebook, Twitter, Google, Amazon, Americanas.com e todos os demais sites que administram uma quantidade gigantesca e crescente de dados digitais sobre as pessoas, estão fazendo ou podem fazer com tudo isso.

Para aumentarem as preocupações, notícias recentes afirmam que governos estão espionando dados digitais de pessoas comuns.

Então resolvi rever meu modelo preditivo. Acrescentei a ele essa reação pública, esse temor pela perda da privacidade, e o modelo ficou bem melhor! Agora a tendência ao open data é muito mais evidente!

Sei que a afirmação parece paradoxal: se as pessoas reclamam da invasão de privacidade elas deveriam ser contra o livre compartilhamento de dados para todos.

O paradoxo é só aparente. Vou argumentar em itens para facilitar:

  • A invasão de privacidade só pode acontecer no que está privado. Se estiver público, não há invasão de privacidade;
  • A espionagem só acontece no que está escondido. Se nada estiver escondido, não haverá o que espionar;
  • A descoberta das espionagens que tanto abalaram a opinião pública só foi possível por causa de outras espionagens, que também quebraram os acordos de privacidade e confidencialidade, e mesmo assim nós aplaudimos (por isso Assange e Snowden são mais vistos como heróis que vilões);
  • O que as pessoas temem com a utilização de dados digitais é que eles sejam usados para o mal. Se fosse possível garantir que tudo seria usado com bom senso e para o bem, ninguém reclamaria. Mas o que é o mal? O que é o bem? Quem seria o dono do “bom senso”? Se os dados estiverem ao alcance de todos, esse problema não se resolverá. Mas eles estarão ao alcance de todos e não apenas de um grupo com um determinado tipo de “bom senso”.

As pessoas ainda nãos sabem, mas open data não é perda de privacidade, e isso um dia a mídia comum vai dizer, e então elas vão saber.

Se alguém também usar seu personal kit e chegar a uma conclusão diferente, ela  será muito bem vinda nos comentários deste post.





7 comentários:

  1. Como sempre, inspirador, inquietante, inovador.... Força motriz do conhecimento! Obrigada por me ajudar a pensar!

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  2. Obrigada pelo comentario, Mariza. Toda novidade teológica demanda um tempo para ser compreendia e devidamente utilizada., Instigar e inspirar são ferramentas poderosas para reduzir esse tempo e isso todo ser humano faz quando troca idéias. Fico feliz em saber que não estou disseminado verdades (até porqe não as tenho!), mas ajudando a pensar. Saiba que escrever aqui e trocar idéias com quem lê também me ajuda muito a pensar.

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  3. Obrigada pelo comentario, Mariza. Toda novidade teológica demanda um tempo para ser compreendia e devidamente utilizada., Instigar e inspirar são ferramentas poderosas para reduzir esse tempo e isso todo ser humano faz quando troca idéias. Fico feliz em saber que não estou disseminado verdades (até porqe não as tenho!), mas ajudando a pensar. Saiba que escrever aqui e trocar idéias com quem lê também me ajuda muito a pensar.

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  4. Parabéns pelo Blog.

    Gostei muito da reflexão, porém não pude parar de pensar sobre qual será o destino das nossas identidades quando todos vivermos sem segredos,totalmente transparentes e em público? Que tipo de ganho teríamos com isso? Enriqueceria as nossas personalidades? Apesar das pessoas, muitas vezes, se comportarem on-line como um programa de computador, o ser humano não pode ser expressado como algorítmo ou um registro linear e temporal de dados.

    A ideia do fim da privacidade, da transpaarênciia total, me parece muito mais com o aprisionamento do indivíduo dentro de uma estrutura de monitoramento constante. Uma prisão sem grades, mas mesmo assim uma prisão.

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    1. Olá, Alex. Para começar a responder todas as suas questões, começo reafirmando sua primeira frase: isso aqui é uma reflexão. Não tenho respostas para todas as suas perguntas, acho que ninguem tem. Tambem acho que jamais alcançaremos um consenso numa questão como essa, mas isso não pode nos impedir de refletir e discutir.

      Quanto à privacidade, penso que o maior ponto de atrito é no conceito de dados. Dados por definição, são uma representação de um evento. Não contém informação. Só quando associados a outros dados a informação aparece. Quando eu digo que dados de dinâmica humana devem ser open não digo que deva expor a privacidade de ninguem. Veja bem: Google, Facebook, Twitter, Linkedin, etc JÁ USAM OS NOSSOS DADOS há muito tempo. Mais: companhias telefonicas, eletricas e governos tambem usam nossos dados. Nem por isso sentimos que estamos perdendo privacidade. Porque não estamos mesmo. A filosofia open apenas questiona porque essa utilização não pode ser mais democratizada. Interessa às organizações que controlam grandes quantidades de dados que a sociedade pense que usar dados expõe a privacidade. Não existe um paradoxo aí?

      Como a resposta já esta ficando longa demais, vamos discutindo mais sobre isso ao longo do tempo.

      E então? O que você acha?

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    2. Luciana,

      São tantas as questões neste post. Vou então me restringir apenas a questão do Open e deixar a expressão e representação do indivíduo para uma outra conversa.

      Concordo com você que dados sem contextualização não ameaçam a privacidade de ninguem. Que de certa forma aceitamos que as grandes corporações contextualizem, usem e monetarizem os nossos dados sem nos sentirmos "invadidos". Porém existe claramente uma situação de invasão, um incômodo que se manifesta quando descobrimos que o Governo faz isso. O Google e o Facebook podem, o Governo não?
      A verdade é que temos empresas que hoje possuem mais poder sobre os cidadãos do que estados nacionais. Também concordo que é interesse destas organizações criar o medo da "invasão da privacidade" como forma de restringir o acesso aos dados dos usuários em suas nuvens computacionais. No entanto a filosofia do Open talez seja ainda mais assustadora. Qando meus dados se tornam públicos, abro mão de qualquer direito sobre eles. Inclusive de me defender legalmente do uso indevido deles por terceiros, até pelas empresas que os armazenam. Não falo apenas do usuário comum, pessoas físicas, mas também dos usuários corporativosm mais sensíveis a este tipo de exposição.

      Vamos conversando mais em outros posts. Mesmo tendo posição divergente sobre o tema, é um grande prazer ler as suas reflexões.

      PS: Cito o Google apenas como exemplo, poderia ser Microsoft, Twitter, facebook, Amazom.

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  5. Olá Luciana, tenho que fazer um artigo final de MBA em TI, e gostaria de sua opinião ou até dica mesmo sobre o big data aplicado à política brasileira. Atualmente penso em fazer algo do tipo: pegar os candidatos para eleições 2014, e definir palavras chaves para obter informações do Twitter via data stream para verificar estatisticamente o possível ganhador, levando em conta o quanto este candidato é mal falado no twitter.

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