quinta-feira, 4 de abril de 2013

Big Data. Isso lhe interessa?


Big Data. Isso lhe interessa?



Em setembro de 2012 li um artigo sobre ciência das redes publicado no site Edge.org. O texto era do cientista Albert-Lazló Barabási, professor e diretor do Centro de Pesquisas em Redes Complexas da Universidade de Northeastern, em Boston.

Intitulado Thinking in network terms, o texto explicava em linhas gerais a importância dos dados digitais e o impacto que eles teriam nas ciências.

O objetivo do autor era alertar para a necessidade urgente de se discutir a questão da propriedade dos dados digitais e privacidade na rede, sob pena de perder a oportunidade de dar um grande passo na direção de compreender os sistemas onde vivemos e encontrar soluções para os problemas complexos que neles se apresentam.

Entusiasta do movimento Open Data, Barabási afirma em seu texto que os dados coletados por sites como Facebook e Google têm grande valor para a comunidade científica e que isso já justificaria uma revisão dos modelos de acordos de privacidade atuais.

Até então, tudo o que eu havia lido sobre open data era baseado em argumentos da filosofia Mertoniana que afirma que dados e informações coletados na sociedade são valores gerados coletivamente, portanto impossível de se atribuir propriedade.

Barabási colocou open data em outros termos, e minimizou a polêmica questão da privacidade de modo muito simples, mostrando em retrospectiva a evolução das redes sociais. 

O MySpace, primeiro site popular desse tipo, era completmente anônimo e privado. Poucas pessoas compartilhavam suas informações e quando faziam era para um grupo seleto de familiares e amigos muito próximos. Era como aquele mural de cortiça antigo na parede do quarto onde quase ninguém tinha acesso. O Facebook tirou o anonimato do modelo. Os usuários se cadastram com seus nomes e outras informações reais. Existem ferramentas de restrição de acesso ao conteúdo, mais isso vira quase uma lenda porque, sabendo que as redes sociais são altamente interconectadas, é impossível garantir que uma determinada informação postada nunca será acessada por um usuário indesejado. E então surge o Twitter, onde tudo que é postado é compartilhado por toda a rede indiscriminadamente.

Os usuários da internet estão evoluindo para um modo menos privado de vida. Não seria absurdo afirmar que a humanidade está  evoluindo para um modo menos privado de vida. Na internet postamos fotos, publicamos nossas inclinações religiosas, sexuais e políticas, damos nossa opinião sobre fatos relevantes e polêmicos e fazemos checkin nos lugares que frequentamos. No mundo não virtual, aceitamos ser filmados por câmeras de seguranças ou de TVs e ser rastreados por GPS de seguradoras de automóveis.

Mas isso não quer dizer que a questão da privacidade na rede não será a celeuma que todos imaginam. Digo isso porque as informações que colocamos voluntáriamente na internet são apenas a ponta do iceberg Big Data. O valor do Big Data está no que ainda é desconhecido da maioria. A celeuma provavelmente acontecerá porque a minoria que já enxergou esse valor não abrirá mão do controle sobre esses dados. Pelo menos não facilmente. Com certeza o respeito à privacidade será alegado, mas os motivos verdadeiros para justificar mecanismos restritivos de compartilhamento serão econômicos afinal, não é difícil imaginar que dados digitais tenha valor para além da comunidade científica.

Em 2006, Clive Humby usou a metáfora "novo petróleo" para se referir a dados digitais. Para ele, os dados digitais são para o século XXI o que o petróleo foi para o século XX.

A privacidade na rede foi a porta de entrada para o meu interesse em Big Data. Mas claro que seria inevitável esbarrar em diversas outras questões relevantes como, ética na utilização de modelos preditivos, lei de patentes, segurança da rede, armazenagem, governança de dados, riscos de uma economia dataficada, empoderamento individual, novos modelos de negócio, novas competências etc.

A proposta desse blog é trocar conhecimento sobre esse assunto  tão emergente e tão impactante, para o qual não podemos mais fechar os olhos.

Francis Maude, chefe de gabinete do governo britânico, afirmou recentemente que discutir a livre utilização de dados na internet é desconfortável e estranho, principalmente para os governos, mas chegamos num ponto de onde não é mais possível voltar.

Se o assunto lhe interessa sob qualquer perspectiva, inclusive contrária às coisas que serão publicadas aqui, eu quero muito saber o que você pensa. 

Todo conteúdo desse blog é livre para utilização e compartilhamento, desde que seja citada a fonte, como orienta a ética do open knowledge.

7 comentários:

  1. Estou convencido que Big Data/Ciência das Redes serão os assuntos que vão guiar as decisões importantes que teremos que tomar daqui por diante. E você começa falando de um ponto fundamental: quem vai controlar os dados? O Google, o Facebook, os governos? Ou eles serão abertos?
    Longa vida ao seu blog!
    Vou acompanhar de muito perto! ;-)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vamos falar sobre privacidade e propriedade de dados... quando estivermos convencidos do valor do Big Data. Será que já passamos dessa fase?

      Excluir
    2. Acredito que já passamos desta fase do valor, pois o Big Data, digital ou não, já influencia nossas vidas (saúde, produção de alimentos, bens de consumo, meteorologia, entretenimento, etc.) e a longo tempo. Aqui no Canadá a preocupação sobre o uso e a posse destes imensos repositórios de informação deram origem a uma das mais robustas legislações do mundo sobre privacidade da informação (http://www.priv.gc.ca/index_e.asp).
      Excelente sua iniciativa, vou estar presente!!

      Excluir
    3. Muito obrigada por compartilhar o link, Maurício!Certamente usarei como fonte de pesquisa. Impressão minha ou existe uma pequena contradição em querer os beneficios do Big Data e uma lei robusta sobre privacidade? Como as pessoas vêm isso por aí? Fique em contato ;)

      Excluir
    4. Luciana acabo de ler seu post de 27 de Abril e a resposta a sua pergunta está lá. Ter uma lei que preserve a privacidade dos nossos dados pessoais é extremamente necessária para nos proteger dos espertos de plantão. O uso destas informações podem servir para objetivos muito menos nobres do que o de reduzir a incidência de tuberculose na população. Aqui a privacidade é algo cultural e está presente no dia-a-dia da população. Os Canadenses acham benéfico o uso do Big data porém com as devidas ressalvas.

      Excluir
  2. Parabéns pela iniciativa! Soube de seu blog pelo Facebook, e o tema muito me interessa. Vou te acompanhar!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Simone. Vou querer saber o que você pensa sobre Big Data.

      Excluir